Dra. Tamaki Sato ficou confusa com a exibição de dinossauros. As placas descreveram os diversos dinossauros como originados de períodos geológicos distintos - os stegossauros do Alto Jurássico, os heterodontossauros do Baixo Jurássico, o velociraptor do Alto Cretáceo - ainda assim, em cada caso, as datas de desaparecimento eram as mesmas: cerca de 2.348 a.C.
"Fiquei querendo saber o motivo", disse Sato, professora de geologia da Tokyo Gakugei University, no Japão.
Para paleontólogos como Sato, camadas de rochas representam um acúmulo de centenas de milhões de anos, e o Baixo Jurássico é muito mais antigo que o Alto Cretáceo.
No entanto, aqui no Museu da Criação, no norte do estado de Kentucky, a Terra e o universo têm somente seis mil anos de idade, e foram criados em seis dias por Deus. O museu alega: "Mesmos fatos, diferentes conclusões". Ele é inequívoco em ver dados paleontológicos e geológicos sob a luz da leitura da Bíblia.
Na interpretação criacionista, as camadas foram depositadas num único evento - a inundação do mundo, quando Deus varreu a terra, com exceção das criaturas da Arca de Noé - e os dinossauros morreram no ano de 2.348 a.C, ano da inundação.
"Essa é uma coisa nova que aprendi", disse Sato.
Os mundos da paleontologia acadêmica e do criacionismo raramente colidem, mas o primeiro visitou o último na quarta-feira passada. Na Universidade de Cincinnati, ocorria a Convenção Paleontológica Norte-Americana, onde cientistas apresentavam suas últimas pesquisas sobre as fronteiras do passado antigo. Numa pausa entre as palestras, cerca de 70 participantes embarcaram em ônibus escolares para uma visita de campo ao Museu da Criação, do outro lado do Rio Ohio.
"Estou muito curioso e fascinado", disse Dr. Stefan Bengtson, professor de paleozoologia do Museu de História Natural da Suécia, antes da visita, "porque temos poucas coisas assim no meu país".
Dr. Arnold I. Miller, professor de geologia da Universidade de Cincinnati e chefe do comitê de organização do encontro, sugeriu a viagem. "Muitas vezes, os acadêmicos tendem a ignorar o que acontece ao redor deles", disse Miller. "Sinto que, pelo menos, seria valioso para meus colegas saberem não somente como os criacionistas estão mostrando suas próprias mensagens, mas também como eles estão mostrando a mensagem paleontológica e a evolucionária".
Desde a abertura do museu, há dois anos, 750 mil pessoas já o visitaram, mas esse foi o primeiro grande grupo de paleontólogos a passar por suas portas. O museu recebeu os visitantes atípicos com a típica hospitalidade. "Glória a Deus, estamos empolgados de tê-los aqui", disse Bonnie Mills, responsável pelo atendimento ao visitante.
Os cientistas pagaram a taxa de entrada para grupos, que incluía o almoço.
Dr. Terry Mortenson, palestrante e pesquisador da Answers in Genesis, a missão religiosa que construiu e administra o Museu da Criação, disse não esperar que a visita mudasse a mente de muitas pessoas. "Tenho certeza que, em grande parte, eles têm uma visão diferente do que é apresentado aqui", disse Mortenson. "Só vamos dar a liberdade de ver o que eles querem ver".
Perto da entrada para as exibições, existe um display animatrônico que mostra uma garota alimentando um esquilo com uma cenoura, enquanto dois dinossauros estão por perto. A imagem revela uma distância enorme entre a instituição e os museus de história natural, que afirmam que os primeiros humanos viveram 65 milhões de anos depois dos últimos dinossauros.
"Estou pasmo", disse Dr. Derek E.G. Briggs, diretor do Museu Peabody de História Natural, em Yale, que caminhava pelo museu de braços cruzados e expressões faciais de reprovação. "É até assustador".
Mortenson e outros do museu disseram analisar as mesmas rochas e fósseis que os cientistas visitantes analisam, mas, devido a diferentes pontos de partida, eles chegam a conclusões diferentes. Por exemplo, eles dizem que a inundação bíblica deflagrou uma grande agitação no interior da Terra. Isso separou os continentes e os levou a seus locais atuais - ou seja, para eles, os continentes não têm se movido ao longo dos últimos bilhões de anos.
"Todo mundo tem pressuposições do que eles irão considerar, que perguntas eles irão fazer", disse Mortenson, doutor em história da geologia pela Coventry University, Inglaterra. "Os primeiros dois recintos do nosso museu falam sobre essa questão, de pontos de partidas e pressuposições. Nós contestamos fortemente uma posição evolucionista de que eles estão deixando os fatos falarem por si próprios".
A apresentação do museu tem apelo para visitantes como Steven Leinberger e sua mulher, Deborah, visitantes de um grupo da Igreja da Confissão Luterana, em Eau Claire, estado do Wiscosin. "Isso é o que deveria ser ensinado, até mesmo nas ciências", disse Leinberger.
Os fundadores do museu optaram pela área de Cincinnati porque ela está a um dia de viagem de carro de dois terços da população dos Estados Unidos. A área também atrai, há muito tempo, paleontólogos, devido à proximidade com algumas das rochas mais carregadas de fósseis da América do Norte. No local, é fácil, na beira de algumas estradas, coletar fósseis datados de centenas de milhões de anos. As rochas também são tão conhecidas que são chamadas de Série Cincinnati, representando o período de tempo de 451 milhões a 443 milhões de anos atrás.
Muitos dos paleontólogos acharam que o museu representa mal e ridiculariza os próprios cientistas e seu trabalho, e os culpa, de forma injusta, pelos males da sociedade.
"Acho que eles deveriam dar um novo nome ao museu - não Museu da Criação, mas Museu da Confusão", disse Dr. Lisa E. Park, professora de paleontologia da Universidade de Akron.
"Infelizmente, eles fazem isso sem saber", disse Park. "Fiquei decepcionada. Como cristã, fiquei decepcionada".
Bengtson observou que, para explicar como as poucas espécies a bordo da arca poderiam ter se diversificado e se transformado na multidão de animais vivos hoje, em apenas alguns milhares de anos, o museu simplesmente disse: "Deus forneceu aos organismos ferramentas especiais para mudar rapidamente".
"Assim, em uma frase, eles admitem que a evolução é real", disse Bengtson, "e que eles têm de evocar a mágica para explicar como as coisas funcionam".
No entanto, até alguns que discordam da informação e da mensagem, admitem que o museu tem um apelo óbvio. "Odeio que isso exista", disse Jason D. Rosenhouse, matemático da James Madison University, na Virgínia, e blogueiro de assuntos relacionados à evolução. "Mas, já que isso existe, você pode se divertir aqui. Eles fazem um ótimo show, se você consegue segurar sua descrença".
Ao final da visita, entre os dinossauros, Briggs parecia ter se divertido. "Gosto da ideia de que os dinossauros estavam na arca", disse ele. Cerca de 50 tipos de dinossauros foram embarcados com Noé, explica o museu, mas depois eles foram extintos, por razões ainda desconhecidas.
Briggs se deu conta de que o museu provavelmente muda poucas mentes. "Mas me preocupo com os pequenos", disse ele.
Sato comparou o local a um parque de diversões. "Gostei tanto quanto a Disneylândia", disse ela.
Ela gostou da Disneylândia?
"Não muito", disse ela.
Fonte: UOL Ciência
"Fiquei querendo saber o motivo", disse Sato, professora de geologia da Tokyo Gakugei University, no Japão.
Para paleontólogos como Sato, camadas de rochas representam um acúmulo de centenas de milhões de anos, e o Baixo Jurássico é muito mais antigo que o Alto Cretáceo.
No entanto, aqui no Museu da Criação, no norte do estado de Kentucky, a Terra e o universo têm somente seis mil anos de idade, e foram criados em seis dias por Deus. O museu alega: "Mesmos fatos, diferentes conclusões". Ele é inequívoco em ver dados paleontológicos e geológicos sob a luz da leitura da Bíblia.
Na interpretação criacionista, as camadas foram depositadas num único evento - a inundação do mundo, quando Deus varreu a terra, com exceção das criaturas da Arca de Noé - e os dinossauros morreram no ano de 2.348 a.C, ano da inundação.
"Essa é uma coisa nova que aprendi", disse Sato.
Os mundos da paleontologia acadêmica e do criacionismo raramente colidem, mas o primeiro visitou o último na quarta-feira passada. Na Universidade de Cincinnati, ocorria a Convenção Paleontológica Norte-Americana, onde cientistas apresentavam suas últimas pesquisas sobre as fronteiras do passado antigo. Numa pausa entre as palestras, cerca de 70 participantes embarcaram em ônibus escolares para uma visita de campo ao Museu da Criação, do outro lado do Rio Ohio.
"Estou muito curioso e fascinado", disse Dr. Stefan Bengtson, professor de paleozoologia do Museu de História Natural da Suécia, antes da visita, "porque temos poucas coisas assim no meu país".
Dr. Arnold I. Miller, professor de geologia da Universidade de Cincinnati e chefe do comitê de organização do encontro, sugeriu a viagem. "Muitas vezes, os acadêmicos tendem a ignorar o que acontece ao redor deles", disse Miller. "Sinto que, pelo menos, seria valioso para meus colegas saberem não somente como os criacionistas estão mostrando suas próprias mensagens, mas também como eles estão mostrando a mensagem paleontológica e a evolucionária".
Desde a abertura do museu, há dois anos, 750 mil pessoas já o visitaram, mas esse foi o primeiro grande grupo de paleontólogos a passar por suas portas. O museu recebeu os visitantes atípicos com a típica hospitalidade. "Glória a Deus, estamos empolgados de tê-los aqui", disse Bonnie Mills, responsável pelo atendimento ao visitante.
Os cientistas pagaram a taxa de entrada para grupos, que incluía o almoço.
Dr. Terry Mortenson, palestrante e pesquisador da Answers in Genesis, a missão religiosa que construiu e administra o Museu da Criação, disse não esperar que a visita mudasse a mente de muitas pessoas. "Tenho certeza que, em grande parte, eles têm uma visão diferente do que é apresentado aqui", disse Mortenson. "Só vamos dar a liberdade de ver o que eles querem ver".
Perto da entrada para as exibições, existe um display animatrônico que mostra uma garota alimentando um esquilo com uma cenoura, enquanto dois dinossauros estão por perto. A imagem revela uma distância enorme entre a instituição e os museus de história natural, que afirmam que os primeiros humanos viveram 65 milhões de anos depois dos últimos dinossauros.
"Estou pasmo", disse Dr. Derek E.G. Briggs, diretor do Museu Peabody de História Natural, em Yale, que caminhava pelo museu de braços cruzados e expressões faciais de reprovação. "É até assustador".
Mortenson e outros do museu disseram analisar as mesmas rochas e fósseis que os cientistas visitantes analisam, mas, devido a diferentes pontos de partida, eles chegam a conclusões diferentes. Por exemplo, eles dizem que a inundação bíblica deflagrou uma grande agitação no interior da Terra. Isso separou os continentes e os levou a seus locais atuais - ou seja, para eles, os continentes não têm se movido ao longo dos últimos bilhões de anos.
"Todo mundo tem pressuposições do que eles irão considerar, que perguntas eles irão fazer", disse Mortenson, doutor em história da geologia pela Coventry University, Inglaterra. "Os primeiros dois recintos do nosso museu falam sobre essa questão, de pontos de partidas e pressuposições. Nós contestamos fortemente uma posição evolucionista de que eles estão deixando os fatos falarem por si próprios".
A apresentação do museu tem apelo para visitantes como Steven Leinberger e sua mulher, Deborah, visitantes de um grupo da Igreja da Confissão Luterana, em Eau Claire, estado do Wiscosin. "Isso é o que deveria ser ensinado, até mesmo nas ciências", disse Leinberger.
Os fundadores do museu optaram pela área de Cincinnati porque ela está a um dia de viagem de carro de dois terços da população dos Estados Unidos. A área também atrai, há muito tempo, paleontólogos, devido à proximidade com algumas das rochas mais carregadas de fósseis da América do Norte. No local, é fácil, na beira de algumas estradas, coletar fósseis datados de centenas de milhões de anos. As rochas também são tão conhecidas que são chamadas de Série Cincinnati, representando o período de tempo de 451 milhões a 443 milhões de anos atrás.
Muitos dos paleontólogos acharam que o museu representa mal e ridiculariza os próprios cientistas e seu trabalho, e os culpa, de forma injusta, pelos males da sociedade.
"Acho que eles deveriam dar um novo nome ao museu - não Museu da Criação, mas Museu da Confusão", disse Dr. Lisa E. Park, professora de paleontologia da Universidade de Akron.
"Infelizmente, eles fazem isso sem saber", disse Park. "Fiquei decepcionada. Como cristã, fiquei decepcionada".
Bengtson observou que, para explicar como as poucas espécies a bordo da arca poderiam ter se diversificado e se transformado na multidão de animais vivos hoje, em apenas alguns milhares de anos, o museu simplesmente disse: "Deus forneceu aos organismos ferramentas especiais para mudar rapidamente".
"Assim, em uma frase, eles admitem que a evolução é real", disse Bengtson, "e que eles têm de evocar a mágica para explicar como as coisas funcionam".
No entanto, até alguns que discordam da informação e da mensagem, admitem que o museu tem um apelo óbvio. "Odeio que isso exista", disse Jason D. Rosenhouse, matemático da James Madison University, na Virgínia, e blogueiro de assuntos relacionados à evolução. "Mas, já que isso existe, você pode se divertir aqui. Eles fazem um ótimo show, se você consegue segurar sua descrença".
Ao final da visita, entre os dinossauros, Briggs parecia ter se divertido. "Gosto da ideia de que os dinossauros estavam na arca", disse ele. Cerca de 50 tipos de dinossauros foram embarcados com Noé, explica o museu, mas depois eles foram extintos, por razões ainda desconhecidas.
Briggs se deu conta de que o museu provavelmente muda poucas mentes. "Mas me preocupo com os pequenos", disse ele.
Sato comparou o local a um parque de diversões. "Gostei tanto quanto a Disneylândia", disse ela.
Ela gostou da Disneylândia?
"Não muito", disse ela.
Fonte: UOL Ciência
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